Saturday, December 01, 2007

Responsabilidade Social Empresarial ou Individual?

O diálogo hoje é sobre Responsabilidade Social Empresarial – RSE para os íntimos. O conceito de RSE vem da premissa que as empresas devem ter uma ação mais responsável dentro da sociedade, auxiliando a construir uma melhor cidadania e ambiente humano. Muitas empresas atualmente bradam aos céus suas crenças e valores ao mundo material enaltecendo a responsabilidade social que praticam e, muitas delas, declarando que não podem esperar que os governos façam algo, pois não são eficientes.

Vamos debulhar este diálogo por partes? Comecemos com a ação responsável. Por que temos que esperar que uma empresa – organização com fins lucrativos – faça o trabalho do governo? E por que ela o faria? Peguemos o exemplo hipotético de um banco que lucre R$ 5 bilhões de reais em um ano com tarifas fixas tão altas que só elas paguem todo o custo fixo de sua enorme estrutura. O que seriam, por exemplo, 30 milhões de reais em ação social? Fora, é claro, a enorme capacidade de isenção em impostos e o uso como marketing social.

Na verdade vários autores estudam estas relações de amor e ódio entre empresa, sociedade e governo. Um deles fala de nossa descrença no governo e na transferência das expectativas de wellfare state para as corporações já que estas são partes mais ativas de nossas vidas como empregadoras, fornecedoras e influenciadoras. Vocês nunca se pegaram dizendo “isto é responsabilidade do governo!” por um lado e “estas empresas ganham muito dinheiro. É bom que façam alguma coisa do outro!”?

Pois é... mas a empresa agradece. Isto faz parte do mercado global. Se lembra do liberalismo francês, pai do famoso neoliberalismo? Desde aquela época há este discurso. “Olha, deixa que eu faço o que o governo não faz tá? Mas fala sério... você não acha que a gente devia ter umas isençõezinhas de impostos, uns subsídios aqui e ali mais uma liberação de encargos trabalhistas? Afinal, nos fazemos muito!” Entendeu? Bom ressaltar que esta não é uma idéia exclusiva minha, mas a corrente de vários pensadores atuais sobre o tema.

Será que vale a pena “comprar” RSE das empresas? Claro que se estas não fizerem nada, continuam com dinheiro. Mas pense bem, porque você cobraria de uma instituição cuja relação com você é comercial uma atitude de bem-estar público se não cobra de quem tira 40% dos seus ganhos anuais para fazê-lo aquilo que realmente deveria fazer? Estamos no meio de um jogo alto. As grandes corporações crescem, se fundem e ganham cada vez mais. É só procurar na rede os ganhos das companhias de aviação em plena “Crise Aérea”.

Nosso problema é a RSI – Responsabilidade Social Individual. O que você faz para fazer a diferença? Nada? Nem eu tenho feito. As empresas buscam “fazer algo” mas pode ser que tenham o intuito de ter um poder de barganha com a sociedade e o governo. Nós nos isentamos, pois pagamos impostos para isto. Enquanto isto, há uma grande massa faminta, em condições precárias e analfabeta real e funcionalmente falando. Estava vendo “Make some noise”, seqüência de documentários no Multishow e me pego com vergonha da minha inação.

A RSE das empresas só existe como ferramenta de validação, dizem vários autores. Validam oligopólios, manutenção de preços altos, negociações leoninas com pequenos fornecedores com a finalidade de engolirmos outros “furos” como negociatas e achatamento salarial. Do outro lado, governo dispersa o debate com sofismas de políticos malandros que dispersam nossa atenção para coisas irrelevantes. Ate quando eu e você iremos ficar parados e não termos alguma validação para simplesmente exigirmos o que é nosso real direito?

Saturday, November 24, 2007

Sem gás para alternativas!

Você tem acompanhado a crise do gás? Eu tenho com alguma apreensão. Por quê? Primeiro por que meu carro é a gás. Qualquer aumento, falta ou turbulência afeta diretamente o meu bolso. Segundo porque se tornou questão de soberania nacional além de ser uma alternativa de combustível fóssil mais ecologicamente correta. Quando resolvi converter meus carros, tinha a “certeza” que não haveria os sustos do Pró-Álcool. Por quê?

Quando fazia MBA, um amigo que trabalhava na CEG me explicara que nunca faltaria gás porque não há nem mesmo como estocar o que sai dos poços aquáticos em excesso. Segundo ele, 1/3 do gás é canalizado para abastecimento, 1/3 rebombeado para gerar pressão nos poços e tirar mais gás/petróleo e outro terço queimado na atmosfera. Já viu as imagens das plataformas com labaredas no ar? Pois é! Gás que não é passível de ser aproveitado.

Somente a ‘”África do Sul “congela” gás natural (processo caríssimo), pois demanda energia e possui poucas fontes hidrelétricas. Outra informação proveitosa era que não dependíamos da Bolívia (nós do Rio) porque éramos alimentados pela Bacia de Campos. Mas a Crise do Gás veio e minha conta de combustível aumentou. Esqueci que a especulação do mercado internacional e as turbulências “Moralestas” do MERCOSUL também contam.

Logo depois apareceu Tupi. Colosso submarino cheio de gás e óleo pronto para libertação dos grilhões. Gigante adormecido que representa auto-suficiência absoluta. Tupi não é novidade nos corredores corporativos da Br. Só a anunciação daquilo que já se esperava. Quando tudo parecia se normalizar, saiu no jornal de 5ª-feira (22/11/07) uma notícia contraproducente.

“Nova Crise de Gás se Anuncia” ameaça descrevendo que a estiagem que assola as hidrelétricas pode gerar desvio do gás que usamos em nossas casas e carros para a produção de energia termelétrica. Mostra gráficos das hidrelétricas do NE, S e CO (não temos hidrelétricas no SE?) e os níveis de água em uma ameaça de que o “preço do gás subiu no telhado”.

Por que continuamos a sofrer os reveses do clima, do mercado internacional de petróleo e caso eu esteja certo, da especulação e boataria com a finalidade única de aumentar preços e lucros – dos outros é claro? O que é dos países que não possuem hidrografia abundante, recursos fósseis e outras possibilidades? Pior. Por que nenhuma das nossas opções é ambientalmente melhor?

Gasolina, gás e energia termo e hidrelétrica são, de qualquer jeito, geradores de grandes impactos ambientais. Pagamos mais caro e pioramos a qualidade de vida de nossas cidades. E a energia eólica, já possível mas subaproveitada? E a energia gerada pelas ondas, já pesquisada na Coppe-UFRJ, mais potencialmente aproveitável em nossa enorme costa? Claro que é mais cara de implementar e “menos eficiente energeticamente”, mas estes são os únicos indicadores a serem contados?

Enquanto eu e você não abdicarmos mão dos carros com 1,2 pessoas/veículo (índice da Barra da Tijuca-RJ), de ir até a esquina de carro para comprar pão, de não sermos “incomodados” em transportes coletivos ruins, cheios e perigosos, estaremos sempre certos de que pagaremos a conta de outro modo. Isto sem falar do que podemos esperar de mais 60 anos de combustíveis fósseis em pleno valor pois Tupi existe e não é brinquedo não.
Olá, como vai?

Neste meu blog pessoal colocarei textos e cometários sobre o mundo dos negócios de uma maneira mais ácida. Minha meta? Ser questionativo das ações empresariais de uma maneira mais amena e isenta de ataques pessoais ou corporativos. Creio que o modelo de vida que vivemos tem que ser revisto mas daí a satanizar pessoas e empresas há uma grande diferença. Com a visão de construir um debate mais aberto e menos atacante, espero ter sua atenção semanal.

A postagem ocorrerá todos os sábados a partir desta data. Pretendo que o “Ioannis” (meu 2º nome) venha a falar das empresas e negócios comentados na mídia escrita e online. Neste sábado o primeiro post vai falar da crise do gás. Por favor, mande brasa colocando comentários, adicionando informações e até criticando caso você ache que eu escrevi alguma abobrinha. Sei que o tempo é pequeno mas duas linhas de cada um para mim serão mais que um presente, será um ensino. Espero aprender muito de vocês.

Nikiforos